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quinta-feira, 21 de abril de 2011


A Arte românica

, por liberar a parte alta da construção, permite acrescentar o clerestório, elemento típico do românico, que na prática é um plano vertical, rasgado por janelões, entre a abóbada principal e as colaterais. Outra invenção é a abóbada de cruzaria que é dividida em seis secções, apresentando uma nervura transversal às duas diagonais. Esta nova nervura se prolonga até o chão, como as outras, converge sobre o pilar intermediário e transforma-o em pilar composto (polistilo), dando um ritmo acentuada à nave. Aí se encontra aberto o caminho para um novo estilo: o gótico.
É este o organismo típico da igreja românica, em que séries de formas e funções correlacionadas criam um verdadeiro estilo, mas que não se apresenta sozinho, acrescentando-se a ele uma série de elementos decorativos.
O elemento decorativo principal, além de funcional, é o arco; quase sempre de volta perfeita, semicircular, acompanhado de moldura e com a parte inferior decorada com alternância de pedras claras e escuras ou mesmo tijolos de barro. Surge assim a bicromia.
Outro motivo decorativo e funcional é a rosácea, que permite a entrada de luz. É uma abertura redonda na parede da fachada principal, coberta por vitrais que a ornamentam. Às vezes também aparece em paredes laterais. As rosáceas, em sua maioria, são a fonte principal de iluminação natural. Era comum, na época, a confecção de janelas que correspondessem ao mesmo tempo às exigências de luminosidade, de segurança, de estética, com iluminação discreta, difusa, com abertura mínima. Surgiu a janela de voamento, que consiste em uma fresta estreita rasgada a meio de uma parede e que vai se alargando progressivamente para o interior, efeito denominado voamento simples. Quando este voamento se dá nos dois sentidos, interior e exterior, denomina-se voamento duplo. Este efeito era típico na feitura das janelas. Quanto às portas, surge, principalmente na França, o mainel (parte-luz), ou seja, um pilar esculpido que divide o vão do portal.
A todos os elementos acrescentam-se as arcarias cegas, que nada mais são do que uma fachada de pequenos arcos sob o telhado ou como moldura para separar partes da obra. Tem-se também o pórtico como um átrio que precede os portais, em que o arco de entrada está apoiado em duas colunas assentadas em esculturas de animais deitados (como leões).
A isso tudo, somam-se também, as variações das instalações em si mesmas, com adequações diversas conforme as diferentes regiões em que o românico se desenvolveu. De estilo variadíssimo, demonstram as manifestações locais com várias diferenças mais ou menos importantes, criando assim subestilos regionais.
A França, exposta a diversas influências, é o estilo mais rico em soluções e aspectos locais. Na parte central, a Normandia, cria a fachada de torre dupla, uma de cada lado do corpo da construção. Este conceito foi levado mais tarde pelos conquistadores normandos à Inglaterra, onde se tornou estilo típico.
Mais ao sul, renuncia-se à abóbada de cruzaria para se adotar a abóbada de berço, ou cobertura bizantina, a chamada cúpula, em que as abóbadas de cruzaria são substituídas por várias cúpulas.
Na França surgiram várias construções com soluções complicadas, principalmente no caminho de peregrinação a Santiago de Compostela, em que se construíram igrejas com várias absides, ou absidíolas, em forma de semi-círculo em torno do altar-mor: as chamadas igrejas de capelas radiantes, dispostas ao longo de uma semicircunferência.
A máxima dificuldade e complexidade nas construções, entretanto, cabe à Alemanha. Era comum construir igrejas com cabeceiras amplas e complexas, o que também se repetia em cada lado do transepto. É típico do alemão as variadas formas de torres, quer circulares, quadradas ou octogonais, tanto na fachada como na cabeceira da construção.
A Alemanha reúne em um só corpo compositivo todos os elementos de culto. A Itália, ao contrário, separa-os. É típico da Itália a construção ser dividida: a igreja, propriamente dita, o batistério, de planta central, ao lado ou em frente ao templo e o campanário, geralmente ao lado na fachada externa da igreja.
Quanto ao corpo da igreja, prevalecem as formas simples de fachada triangular com telhado de duas águas, com as duas partes laterais muito mais baixas que a central. Diferenças decorativas são notáveis, conforme a região do país, como filas de arcaturas sobrepostas nas fachadas, em Pisa e em Lucca, incrustrações de mármores coloridos nas construções florentinas e decorações islâmicas combinados com alvenaria românica na Sicília.
Outras soluções não menos interessantes foram encontradas na Inglaterra, sob a influência normanda, mas criando uma versão original pela imponência do edifício. Foi na Inglaterra que surgiram as primeiras abóbadas de nervuras e a criação da capela da Virgem, dedicada ao culto de Maria, quase uma outra pequena igreja independente junto ao corpo da igreja principal. É na Inglaterra que o transepto tende a duplicar de tamanho e este traçado tornar-se-á padrão na época seguinte.
Três outros elementos surgem em todas as regiões, não podendo ser atribuídos a qualquer escola local, mas muitíssimo freqüentes. O primeiro é a ocorrência de pilares em alternância, grandes e pequenos. O segundo é a presença da cripta, que é uma pequena igreja com abóbada de cruzaria na parte subterrânea, para a guarda de relíquias de santos e tesouros. Em terceiro, a existência de igrejas redondas dedicadas ao Salvador e talvez construídas seguindo o modelo da Igreja da Paixão em Jerusalém, que constitui uma versão especial do estilo românico.
Além de igrejas, embora em número menor, existem castelos e alguns palácios nesse estilo. Porém a definição de românico não se aplica muito bem a eles, uma vez que essas construções não têm, sobretudo, o cunho religioso.

A ESCULTURA

A arte na Idade Média e suas representações, não eram consideradas expressões independentes. O edifício românico era pensado em três partes: arquitetônica, escultórica e pinturesca.
Nas construções, a escultura está reservada para alguns núcleos funcionais: as portadas de acesso, os ambões, capitéis, cornijas e suporte de portas.
O portal pode ser único pela nave central, ou mais de um dando acesso às colaterais e ao transepto. O vão central pode ou não ser dividido por uma coluna esculpida. A parte superior do portal é decorada por um tímpano esculpido com vários motivos. O portal é cortado em voamento.
O tímpano interno é esculpido com a figura de Cristo entronizado (Majestas Domini). A parte inferior, com figuras de lutas de animais (bem–mal), motivos geométricos ou personagens estilizadas. O que interessa é o fato e não o indivíduo.
O capitel é quase sempre esculpido com cenas bíblicas, figuras de artesãos, cotidiano, monstros, ou mesmo figuras alegóricas e inventadas.
Esculpe-se em baixo e em alto relevo os capitéis, as galerias de circulação e a arquitrave.
As portas nem sempre são decoradas, pois que eram de bronze e a técnica não estava tão difundida igualmente em todas as regiões. Mas, quando aparece, usa-se temas religiosos e moldurados por motivos geométricos e cabeças de leão.
Os escultores faziam também o registo, que é uma faixa horizontal comprida, não muito alta, separada do resto da superfície por uma moldura de perfil decorado que servia para dar seqüência ao relato das imagens.
A função dessa decoração era doutrinar as pessoas analfabetas nos ensinamentos do Evangelho (Biblia Pauperum).
Como características gerais, não havia relação do personagem com a realidade, daí as deformações, as transposições simbólicas e a mistura do aspecto real e fantástico. As figuras são postas lado a lado sem qualquer relação, numa tentativa de criar um espaço tridimensional. Nos tímpanos e capitéis aglomeram composições cheias de ritmo, simbólicas ou expressivas, mas não realistas.
A escultura românica não se limita às grandes obras, mas também se aplica a pequenas peças de ourivesaria, frontais de altares, relicários e crucifixos.

A PINTURA

Muito se perdeu do que se refere à pintura românica. No entanto, o que chegou até nós em representações, desde de painéis, murais, frescos e ilustrações em livros, é o que melhor havia.
Os temas são quase sempre iguais e comuns à escultura da época, respeitando a religiosidade, evangelização e promulgação da fé através de cenas bíblicas do Antigo e Novo Testamento, vida de santos, ilustrações de atividade do cotidiano, acontecimentos lendários ou glórias passadas.
Os meios expressivos da pintura, tal como toda a arte do período, se preocupa mais com o efeito do que com a elegância, mais em relatar o feito do que em decorar. Usa cores vivas, figuras desajeitadas, mas de grande expressividade. Os pintores não se preocupavam em pintar de maneira realista o fundo onde se moviam as personagens. Não se preocupavam com a perspectiva. O ambiente citadino ou mesmo natural era representado por símbolos. Uma planta podia representar o Jardim do Éden, por exemplo. Também não se preocupavam com a manifesta irrealidade daquilo que desenhavam. Ao contrário, além de deformar a figura, davam mais expressividade aos gestos para tornar evidente, através do exagero, as situações desejadas.
Um dos elementos característicos das pinturas românicas era a composição estilizada com figuras dispostas sempre da mesma maneira, em seqüência horizontal, ou simetricamente dispostas em torno de um ponto de interesse geral. A composição da pintura gira em torno de um núcleo de linhas, de massas ou cores que constituem um esquema. Esse esquema é representado em vários casos com figuras geométricas como triângulos, quadrados ou círculos. As linhas ou curvas da construção de uma obra são quase sempre organizadas em conjuntos de formas geométricas. As cores são vivas ou suavizadas por uma gama de tons
.
As pinturas nas igrejas chegaram até nós nas suas paredes principais e absides. O tema sempre é o Cristo Vencedor, entronizado, o Cristo Pantocrátor. À sua volta, multidões de santos, anjos, pessoas e potestades infernais. Nas paredes da nave, procissões de santos ou passagens bíblicas, dominadas por grandes figuras ou mesmo de imagens menores compondo registos sobrepostos. Na Itália, país influenciado pelo mundo bizantino, as pinturas são freqüentemente substituídas por mosaicos de fundo dourado de origem oriental.
As miniaturas fazem parte da pintura românica de tal forma que os esquemas e influências de uma atividade refletem na outra. A ilustração de livros é freqüentemente usada para evidenciar e ornar um episódio. A decoração das letras iniciais dos capítulos ou dos parágrafos é uma característica desta arte de grande fantasia, vivacidade e colorido, de habilidade de condensação em um espaço exíguo e destreza de execução.
O românico demonstra assim um coerente valor expressivo em todos os campos.

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